Julgamentos

Eu fui ao cinema no sábado, com meu filho, que nem nome tem ainda, ao CineMaterna. Ele estava com dois dias. Não fui com o propósito de quebrar nenhum recorde, fui porque queria demais ver o filme da Mostra Internacional de Cinema. Eu estava bem, ele estava bem, sendo plenamente amamentado e protegido pelo meu colostro.

Não avisei ninguém que iria, pois só teria certeza na hora de ir. Minha intenção era chegar em cima da hora, ver o filme e ir embora, discretamente e sem alarde. Por quê? Medo de ser julgada erroneamente, mesmo sabendo que eu não estava fazendo nada de errado. Aquele cinema é minha segunda casa, sei do valor da amamentação na proteção imunológica a um bebê, era só ver o filme e ir embora.

Meu filho nasceu na véspera do início da Mostra, ou seja, dificilmente conseguirei ver outros filmes a não ser no CineMaterna. Tomei a decisão, arrumei a mala do bebê e fui. Meu marido me deixou na porta do shopping e ao sair do elevador, dei de cara com a Alexandra, nossa assessora de imprensa, com um jornalista do lado. Nos olhamos em choque: ela não sabia nem que eu iria, nem que o jornalista iria cobrir a sessão. Morris Kachani, jornalista da Folha de São Paulo, foi com sua esposa e bebê de 7 meses – e fotógrafo. Bom, para quem queria ir ao cinema discretamente, não foi bem o que aconteceu. Relaxei, curti o filme, mas depois, fiquei apreensiva com a possibilidade de “julgamentos” se aquilo saísse no jornal.

A minha história me fez lembrar a de outra mãe, amiga nossa, que veio ao CineMaterna pela primeira vez quando seu filho estava com 1 ano e 3 meses. Achei que estava indo ao cinema com o filho tão crescido porque estava trabalhando, ocupada, não tinha tardes livres. Conversando, descobri que não era este o motivo. Ela teve muita dificuldade em amamentar, acabou interrompendo mais cedo do que gostaria, foi um processo muito tenso e como este era um princípio importante no seu conceito de maternagem, tinha vergonha em sair com mamadeira e dos supostos e eventuais olhares julgadores que poderia encontrar. Ela, que é uma pessoa segura e dinâmica, sucumbiu ao medo do julgamento – que nem sabemos se ocorreria, como no meu caso.

Por que estas coisas acontecem? Por que temos que ser mães e ainda ficarmos ouvindo os questionamentos das pessoas que frequentemente nem sabem pelo que estamos passando, e num momento tão vulnerável e delicado de nossas vidas? Palpites, todo mundo tem milhões de palpites. Questionamentos muitas vezes mal colocados, conclusões apressadas.

Julgar é uma capacidade humana fundamental, e como diz o dicionário: é emitir parecer, opinião sobre (alguém ou alguma coisa); formar conceito, opinião. Mas prefiro quando é complementado por decidir, após reflexão. E nem sempre há reflexão, ponderação. E aí, ficamos frágeis diante dos outros.

Nem sei porque decidi escrever sobre isso. Ninguém me julgou, e se julgou, não me disse. Melhor assim. Ah, devem ser os hormônios do pós-parto – “eles” levam a culpa por tudo nesta fase!

Em tempo: eu levei sim, uma bronca. Da minha doula, que me mandou sossegar o facho, que pós-parto não é brincadeira, mesmo eu me sentindo bem. E eu achando que levaria bronca por causa do bebê… que aliás, só dormiu e mamou – e ronronou, como contou a Alexandra. Eu voltei na sessão da terça, cinco dias pós-parto já pode, né?