Mães, seres invisíveis
A mulher que acabou de ter um filho passa por um período de invisilidade. É ofuscada por sua própria cria, que gestou por meses. Um bebê ocupa um espaço inversamente proporcional ao seu tamanho na vida de sua mãe. Este período em que a mulher perde sua identidade é chamado de puerpério.
“Sua vida vai mudar”, é a frase que uma futura mãe mais ouve, em especial a de primeira viagem. Muda mesmo, muito. Tanto, que fica irreconhecível. A mulher que existia ali desaparece e dá lugar a um par de seios do qual jorra um leite poderoso, que alimenta e acalenta, mas que, ao mesmo tempo, pode lhe causar dor. Dor que esquece e enfrenta por saber que seu bebê depende dele.
Na gravidez, a bela barriga que cresce e gesta uma vida torna a mulher o centro das atenções. Mas nos primeiros meses de vida de um bebê, há uma mudança drástica no cenário. Esta mulher passa a ser “a mãe”, não raro chamada de “mãezinha”, diminutivo injusto frente ao tamanho da responsabilidade. Um bebê lindo passa a monopolizar toda atenção do mundo à sua volta e sua mãe some socialmente. Todo mundo pergunta do bebê, com quanto tempo está, se dorme e mama bem, elogia as dobras e as bochechas, mas pouca gente pergunta sobre a mãe, ou, o que é pior, pouco se nota dela. Nossos olhos tendem a visualizar o pequeno ser banguela e de olhos cativantes e não se dirigem à mãe. Um bebê torna sua mãe um ser sociável num sentido nem sempre positivo: comentários e palpites, nem sempre generosos e delicados, são disparados à mãe, que, novamente, parece não estar ali.
Muito se fala das alegrias de ter um filho nos braços, mas pouca gente menciona as inseguranças do puerpério. Ficar isolada entre quatro paredes, sem saber ao certo a demanda do bebê, ouvindo palpites de parentes e amigos. Mulher que outrora era tão dinâmica, se descobre insegura. Sua auto-estima é abalada pela mudança física que passou com a gestação. Suas roupas não cabem no corpo que mudou de forma, a amamentação restringe seu guarda-roupa. Sua rotina passa a ser toda em função do bebê: as mamadas, o banho de sol, as trocas de fralda, o banho. A ida ao pediatra passa a ser um grande acontecimento, mesmo que ele também não a “enxergue”, não pergunte dela. Suas refeições podem ser interrompidas por um choro e sua comida, ingerida fria. Aprende a fazer tudo com uma mão, enquanto a outra, segura o bebê.

Nas madrugadas, existe uma população de mães que acorda ao menor gemido e atende a todos os chamados de fome, já que os pequenos estômagos não comportam a quantidade de leite que os deixe saciados por uma noite inteira. Ninguém vê sua dedicação noite adentro, na penumbra.
Ela mesma percebe que a mulher que existia antes do bebê sumiu. Não tem mais assunto: se pudesse, falaria por horas sobre a maternidade. É um acúmulo de emoções e sentimentos, quer compartilhar, mas sente-se sozinha porque considera que está monotemática: seus amigos se entediariam com sua conversa. Suas amigas que têm filhos estão trabalhando. Está invisível e solitária.
Proponho chamar a puérpera de “mãe recém-nascida”, pois traz uma carga de afetividade que combina mais com este período tão intenso e único na vida de uma mulher.
eu estou assim… tentando me re-descobrir, mãe, insegura, porem feliz e contraditória… meu pequeno primeiro filho amamenta, eu digito com uma mão… solitária… cheia de paz.
Feliz em te ver Irene!!!! Beijão!