Normal…

Você acha que tem algo de estranho nesta foto?

Apesar de não ver os olhos da mãe, é nítido que ela não olha para o bebê. Sabendo que ela é a mãe e vendo seus cabelos desgrenhados, pode-se dizer que ela está exausta da jornada materna. Você vai dizer que é fácil para mim matar a charada por que sei que a foto é do cartaz do filme O Estranho em Mim, que aborda o tema da depressão pós-parto (fizemos uma sessão de pré-estreia com a presença de especialistas que debateram o tema). Mas depressão pós-parto é um enigma nem sempre tão facilmente desvendável, mesmo quando olhamos a mãe de frente e vemos seus olhos fugindo do seu bebê.

Fotos de divulgação do filme O Estranho em Mim

Saiu hoje no jornal Folha de São Paulo, uma matéria sobre depressão pós-parto. Destaco uma frase, que considerei das mais importantes:

“Só se fala em luzes”, afirma Marcia Neder, psicanalista e autora de “Édipo Tirano”, a ser lançado em novembro. “Não se fala da renúncia, da doação e das exigências.”

Soma-se a isso os depoimentos de duas mães que passaram pela depressão pós-parto:

O começo foi “punk”, eu me sentia muito insegura, queria ter a certeza de que estava fazendo tudo certo. (…) No dia a dia, sentia que faltava alguma coisa na equação. É como se não tivesse caído a ficha. Não era desamor, mas eu me sentia deslocada da maternidade. (Andressa Fidélis, 32, Belo Horizonte)

Era medo de não conseguir dar conta. Era medo de ela ter alguma coisa e eu não saber lidar com situação. Eu tinha que me virar sozinha. Eu ficava tão exausta que não tinha vontade de falar com o meu marido. (Janaína Troncarelli, 35, São Paulo)

Maternidade é uma felicidade enorme mas tem seus percalços. Parece que todas sabemos disso antes de engravidar, não é? Mas entre ouvir todo mundo falar e efetivamente passar por tudo que vem no “pacote”, desde a gravidez não-tão-maravilhosa-assim até o desafio da amamentação e as noite mal dormidas, é um abismo.

Quem nunca se questionou, ao menos uma vez, se tomou a decisão certa de ser mãe? Praticamente todas relatam que já quiseram estrangular o marido/companheiro por alguma desatenção com o bebê – o que leva muitas a não dividir os cuidados, sobrecarregando-se. Muitas colocam como meta cuidar sozinhas de seus bebês, sem ajuda de ninguém.

E quem é que cuida da mãe? Esta mulher, atriz principal durante a gestação, vira coadjuvante na vida: tudo passa a ser em função do bebê. Poucos olham para ela – muitas vezes, nem ela mesma.

Não preciso nem dizer que nós, no CineMaterna, queremos que as mães encontrem outras mães, conversem e saiam se sentindo no mínimo, normais. Um olhar, uma palavra, uma troca: que isso as ajude a aliviar o peso que muitas vezes pode vir com a maternidade.