O assunto é raça. Preta.

Por Juliana Freire, responsável pelo financeiro no CineMaterna.

A frase do momento é “não basta não ser racista, tem que ser antirracista”. Isso tem feito com que as pessoas parem e reflitam sobre o assunto. Só que a sensação é de que muitos estão se autodenominando “antirracistas”, quando apenas o título não basta. É necessário reaprender a história do Brasil para mudar seus costumes e sua estrutura.

Dizer que o povo brasileiro não é racista porque somos a junção de várias etnias, que aceitamos todos os povos e vivemos em grande harmonia é a primeira desculpa para normalizar o racismo. Enquanto você não explicar para os seus filhos ou para você mesmo as diferenças dos povos que aqui habitam, você não está fazendo a diferença. É esclarecer que o povo preto foi tirado da sua própria terra, forçado a ser escravo em um outro lugar, que foi trazido acorrentado e humilhado, e sua história e cultura foram deixadas na África. O preto necessita resgatar a origem que lhe foi roubada, pois a grande maioria não sabe sequer de qual país é originário.   

Alguns outros povos vieram fugidos de guerras e outras questões socioeconômicas, mas tiveram a liberdade de manter suas tradições, não foram obrigados a vir, como os pretos. 

Fundamental é questionar-se: por que posso fazer determinadas coisas e os pretos, não? Discussões precisam ser abertas, precisamos ter coragem para enfrentar o racismo estrutural.

O racismo está presente na educação, quando os professores acabam investindo mais no aluno branco, já que ele – teoricamente –  é o que estudará por mais tempo. O racismo está presente na política, onde não temos representatividade, nossas causas não são discutidas e seguimos à margem. O racismo está presente na economia já que não somos vistos como potenciais consumidores.

Como podemos ser a minoria em tantos aspectos da sociedade se somos 54% da população do país? São 128 anos de abolição que ainda não podemos comemorar. Temos em nossas mãos pretas e brancas a responsabilidade de mudar esta história, corrigir a rota daqui para frente.  

Episódios do podcast Mamilos que deram origem a esta reflexão

Como pais pretos de uma adolescente, contamos a ela a real história do Brasil, com detalhes que não estão nos livros escolares. Queremos provocar reflexão, compartilhamos as situações difíceis que já vivenciamos por sermos pretos, para despertar o questionamento, o debate e a reflexão dentro de um espaço mais acolhedor: sua família. São situações que poderão acontecer com ela e nas quais ela precisará tomar as rédeas da sua fala. Queremos que ela esteja preparada para ser uma agente transformadora e formadora de opinião, com embasamento e cautela. 

Não desviamos o olhar de situações incômodas para ela enxergar que aquele menino baleado dentro de casa sem ter feito nada é seu irmão de pele e não podemos nos calar e deixar que ele vire mais um número. Não podemos aceitar que um policial atire e mate um rapaz na moto porque se “assustou” e ele também se torne mais um na estatística. Não podemos nos conformar, precisamos conversar e debater constantemente.   

Ainda temos um longo caminho a trilhar, também estamos aprendendo e crescendo como pessoas e como nação. Temos muito a descobrir sobre a nossa própria história e origem. A lição de casa é consumir mais da nossa cultura e valorizar os movimentos que estão tentando sobreviver no nosso país. Coragem!