O direito de escolha

Por Carlos Eduardo Corrêa, pediatra e neonatologista (USP/SP).

Acompanhei com curiosidade toda a polêmica envolvendo a exibição do longa Cinquenta Tons de Cinza em sessões do CineMaterna. Assisti ao filme e fiquei surpreso em ver que as mães que escolheram assistir ao filme estavam sendo criticadas por irem com seus bebês de colo. Não, críticas às mães não são novidade. 

Sou pediatra e, no consultório, acompanho diariamente famílias que convivem com críticas ao colo, às atitudes da mãe e do pai, à presença da criança em espaços públicos, à exposição do corpo da mulher que amamenta etc. 

Na minha opinião, há uma certa confusão de conceitos. Bem-estar e segurança só podem ser transmitidos por uma mãe feliz e de bem com a vida. Bebês recorrem às suas mães para reconhecer que este mundo é seguro, pelo menos enquanto estão incapazes de fazer isso sozinhos. Através do olhar confiante de suas mães, os bebês percebem segurança e bem-estar. 

Foto tirada em um CineMaterna em 2014

Mas não estamos falando de mundo “perfeito”, muito menos de vida “perfeita”. Essa pretensa santificação da relação mãe-bebê não deixa espaço para todos os sentimentos e desejos humanos. Uma mãe não deveria viver em clausura. 

Uma mulher que nasce como mãe não está condenada a padecer no paraíso. Pelo contrário. Ela está convidada a viver sua vida da forma mais digna e correta, como exemplo de mulher, de ser humano para seu filho. Isso não a coloca num lugar reservado, pudico e careta que não seja sua própria vontade e verdade. Isso não impõe a ela certos e errados e não a impede de ter o direito de escolha em situações nas quais se sinta segura e confiante.

Acho interessante rever conceitos moralistas sobre o direito de escolha das famílias, para que possam viver plenamente seu nascimento e construção. Há vários tons possíveis de educação, que não deixam de refletir os tantos tons da nossa rica cultura. O tom que exclui da vida em sociedade os pais e seus bebês me parece bem cinza.