Quem tem filho, quer colo
Lígia, decidida a sair de casa, coloca seu macacão jeans, veste Alice de vermelho e segue para o shopping. Assistir a um filme é seu anseio. Ainda mais o que levou o Oscar!
Apesar de insegura, ela segue firme e forte seu propósito e, segurando Alice nos braços, compra seu ingresso.
Ela respira fundo e se senta na poltrona escolhida. Após uma hora, no entanto, a inquietação da filha a faz levantar e abandonar seu lugar.
Lígia pensa que partir para casa é sua única opção. Mas, ao tomar o caminho de volta e passar pela porta do cinema, uma pessoa trabalhando silenciosamente no celular interrompe sua partida.
Uma pausa para entender o que se passa e… bingo! A inquietação do bebê é também a da mãe, que sente que apenas a sua filha solta pequenos ruídos durante a exibição do filme, causando desconforto aos outros.
Logo percebo que a mãe precisa de colo, ser acolhida. Ela, assim como eu e certamente como você, passa pelas inseguranças do pós-parto. É quando nos damos conta de que nossa vida nunca mais será a mesma… E não será mesmo! Garanto que se tornará melhor!
A maternidade nos torna mais fortes e, ao mesmo tempo, nos vemos impotentes, julgadas. Contudo, muitas vezes, podemos contar umas com as outras!
Foi assim que embalei Alice no colo e Ligia, nas palavras. Respirando fundo, ela voltou à sala de cinema. Ficamos juntas, em pé no corredor, e novamente a pequena resmungou; rapidamente a embalei e a devolvi para o colo de sua mãe. O filme acabou, Alice finalmente se entregou e dormiu – algo que parecia impossível meia hora atrás, mesmo no peito de sua mãe.
Fiquei feliz em ver mãe e bebê num momento de rendição, relaxando e, ao mesmo tempo, entrando em sintonia.
Assim que as luzes se acenderam, Ligia despejou mil palavras de carinho. Seus olhos marejaram como os meus. Não fiz aquilo só por ela, fiz por mim e por você.
Eu já fui Ligia, e hoje aprendi a acolher: você também passará por isso.
Afinal, só as mães sabem das dores e das delícias de ser mãe.
Texto escrito pela Gláucia Colebrusco, na foto ao lado, com uma mãe (que não é a Ligia do texto). Gláucia supervisiona as voluntárias do CineMaterna, e sempre, sempre está preparada para acolher uma mãe, no cinema, ou fora dele.