Reflexões do “ócio”

Atendo a Bianca Balassiano ao telefone, da equipe do CineMaterna, mora no Rio e coordena as sessões cariocas, região sul e centro-oeste:

-Irene, meu marido foi internado com cálculo renal, o que vai complicar minha viagem para Vitória amanhã. Pensei em ir assim mesmo, mas ele não achou legal.

Claro que Bianca deveria ficar com o marido, nenhuma dúvida quanto a isso. Imediatamente busquei uma passagem de São Paulo para Vitória. Encontrei preços exorbitantes ou voos em horários pouco convidativos. Fiquei com a segunda opção. Dessa forma, um trecho que pode ser feito em pouco mais de uma hora se transformou em uma jornada de quatro horas, com escala no Rio de Janeiro, me obrigando a sair de casa antes das 6h da manhã, para retornar à 1h da madrugada do mesmo dia.

Acredite, cheguei feliz. Como havia chegado em casa depois de 20 horas acordada, quatro voos atrasados, sem comer direito, com o peito desconfortável por não ter amamentado o dia todo? Fiquei intrigada e então recapitulei o dia.

Viajar sozinha tem suas vantagens, consigo colocar minha vida em ordem. Eu, meu computador e meu celular formamos um trio profissional.

Tomada, item de
necessidade básica da vida ambulante

Compartilhando um adaptador com
um desconhecido

Respondo e-mails que estavam parados e limpo minha caixa de mensagens. Durante os voos, quando não é permitido ficar online, arrumo fotografias que se acumularam ao longo de meses. Isso sem contar o que faço quando estou no destino. No caso, conheci as novas coordenadoras de Vitória, as instruí quanto ao funcionamento das sessões, fiz uma limpeza nos equipamentos e materiais das sessões. E ainda assisti o filme comendo pipoca, meu vício.

Não levei nenhum livro. Preferi passar o período de decolagem e pouso, momento em que os equipamentos eletrônicos devem estar desligados, pensando na vida. Foi nesta reflexão que concluí mentalmente alguns assuntos pendentes, aproveitando as opiniões das novas coordenadoras capixabas.

Já passava da meia-noite quando cheguei em São Paulo com uma sensação de dever cumprido em relação a equipe de Vitória e muitas outras coisas também.

Trabalhar com alguém como a Bianca, tão compromissada com o CineMaterna, que cogitou deixar o marido com dor para cumprir sua agenda e que fez um excelente trabalho selecionando voluntárias, é um privilégio.

Bianca e seu “filho postiço”
Foto: Bia Backer

Nas fotos que tiro consigo perceber minha evolução impulsionada pela necessidade profissional. Incrementei os equipamentos, a técnica e o olhar.

Penso nas 15 cidades e 30 salas em que o CineMaterna está, nas mais de 100 voluntárias que atuam conosco, faço planejamento para os próximos meses e penso nos anos que estão por vir. Nunca imaginei estar neste lugar, ter esta vida, fazer o que faço e estar tão feliz e satisfeita. 
A ida imprevista a Vitória, por seus momentos de reflexão e de trabalho, me conscientizou da grande vitória conquistada.