SIM, podemos
Shonda Rhimes. Conhece este nome? Talvez não. Mas já deve ter ouvido falar em Grey’s Anatomy ou Scandal. Ou talvez How to Get Away with Murder ou Private Practice. Mesmo que não tenha assistido a nenhum destes seriados, deve ao menos, ter reconhecido o nome de algum deles.

Shonda é criadora e roteirista dos dois primeiros seriados e produtora dos outros dois. É mãe solo de três filhas. É preta. É incrível (na minha opinião). Tem uma empresa com seu nome, Shondaland, em que trabalha o poder do feminino – é como consigo definir.
Além disso, Shonda é autora do livro “O ano em que disse sim – Como dançar, ficar ao sol e ser a sua própria pessoa“. O título me fez torcer o nariz e me afastar do livro quando o descobri – não gosto de autoajuda. Tempos depois, pandemia, eu, a louca dos audiolivros, resolvi “ouvi-lo”.
Gostei tanto que o indico mesmo que você, como eu, não seja fã de autoajuda. Se você é mãe e profissional, dessas que se questiona se está fazendo certo pelos seus filhos, vale a leitura. Imagine quantas vezes uma pessoa com uma vida atribulada como ela, pessoal e profissional, não se fez esta pergunta.

Uma mulher poderosa dessas, a gente supõe que veio dar lições de vida, não? O mais interessante é que, apropriar-se de sua força, reconhecer seu poder, entender sua influência foi um trabalho árduo a Shonda, feito quando já era famosa, nesse ano do SIM.
Um dos pontos que me fez refletir é quando ela menciona que não existe equilíbrio entre maternidade e vida profissional. Que se você é uma mãe que trabalha, muitas vezes não está presente tanto quanto gostaria. Que ter uma vida profissional é uma decisão que traz perdas e ganhos. “Você tem que tomar a decisão (…). Se estou ganhando em uma coisa, estou falhando em outra“. O ser humano não é onipresente – nem mesmo as mães (!). Parece tão óbvio, mas confesso que nunca pensei desta forma categórica.
Às pessoas que comentam que ser mãe é um trabalho, ela diz que não. Ser mãe é o que você é. Um trabalho pode ser dispensado. Ser mãe, não. Mães não têm descanso nem férias.
Em uma passagem do livro, ela narra que quando esperava sua filha mais velha, uma amiga já mãe lhe perguntou se estava entrevistando babás. Ela, que ainda não era mãe, tinha a mais absoluta certeza de que ELA MESMA CUIDARIA DE SEU BEBÊ. Afinal, para Shonda, se fosse para ter babá, por que teria um bebê? Se ela dava conta de tanto trabalho, por que não poderia também cuidar de um bebê? Pois é, oito semanas de sua bebê, trabalhando exaustivamente e com prazos apertados, virando zumbi, ela começou a entrevistar babás. Diz, com muito orgulho, que sem essa babá, não poderia ser feliz em sua carreira. Analisa que mulheres poderosas e famosas têm vergonha de dizer que têm (muita) ajuda – e se corrige, admitindo que talvez seja mais preciso dizer que estas mulheres foram “envergonhadas” (pressionadas) a não admitir o auxílio (tradução minha, original em inglês “women have been shamed”). Nota: Shonda fala de um lugar de privilégio, em que pode ter esta super-babá. Não é uma possibilidade para muitas mulheres, mas o que ressalto aqui é a reflexão de não ter que dar conta de tudo sozinha.
Tem muito mais destaques, mas não posso contar tudo, né? Vou terminar com a mensagem de rodapé dos emails de Shonda:
Não leio e-mails de trabalho depois das 19h ou nos fins de semana e, se você trabalha para mim, posso sugerir que desligue o telefone?