Vida de mãe não é bolinho

Por Márcia Dihl, jornalista e boleira, mãe da Beatriz e do Bento, de Porto Alegre (RS)

28/10/2020

Quanto tempo é preciso para escrever sobre maternidade na pandemia? Era para ser fácil, essa é minha vida há sete meses, mas existe uma palavra em meu vocabulário: intensidade. Ufa! Tudo é tão intenso, alucinante, arrebatador, maravilhoso, assustador, delicioso e coloca aí mais um monte de sentimentos, bons e ruins. Porque eles fazem parte de mim, mais intensamente desde o dia 05/05/2020, quando o Bento chegou. Bem no meio da pandemia. Já sou mãe da doce Beatriz, de 5 anos.

Bento é meu bebê 🌈, que chegou depois de duas perdas gestacionais. Em dez meses, engravidei 3x. Mas não vivi o luto só dá perda dos meus filhos, quando estava com 19 semanas, perdi minha mãe, que viveu 8 meses com o diagnóstico de um tumor cerebral. Depois de perdê-la, eu sabia que era hora de ganhar. Mas então veio a pandemia. E com ela um novo luto que envolve o maior de todos os castigos: o distanciamento social. Bento viria no tempo certo, no tempo dele, no tempo de Deus. Nasceu de um parto natural lindo, mostrando aquilo que eu não conseguia ver: o tamanho da minha força. E precisei de muito mais para enfrentar o puerpério e engrenar na amamentação.

Conseguimos! Eu, eu e o Bento e nós e nossa aldeia! Mesmo em meio a pandemia recebi o suporte diário da minha irmã gêmea e da minha vizinha, que de tão maravilhosa virou dinda do Bento. Além do meu marido, é claro.

O que esta jornalista por formação e boleira por opção tem para falar sobre pandemia e maternidade? O que vale pra vida: viva e deixe viver! Acolha seus dias de loucura, peça ajuda, surte e então sinta o cheiro do bafinho de leite, sorria com orgulho enquanto vê seus filhos dormirem, vibre com cada novo aprendizado e lembre-se: a gente não controla nada, mas podemos ser felizes com o que temos. Mesmo em tempos tão difíceis.

04/11/2020

Quem já lotou o celular com fotos e vídeos dos filhos que ficou sem espaço põe o dedo aqui, que já vai fechar… Se ainda não aconteceu, aguarde o primeiro dente, primeira fruta, primeiros passos e pá… tá lá a mensagem “armazenamento cheio”. 

Agora vem cá comigo, no clube secreto das mães em puerpério na pandemia, que eu vou contar um segredo. Hoje eu descobri que o meu ser, eu todinha também estou lotada. Querem ver? Bento está com 6 meses, ele tem uma mana maravilhosa, a Beatriz (Bia) de 5 anos e na nossa casa tem também o maridão. Imaginem a cena: nós 4 em cima da cama, num colchão padrão. Mamãe aqui ficou sem espaço. 

Assim, em todo contexto social que vivemos, eu sei que sou super privilegiada. Carro, conforto, saúde para todos (esse é o principal, claro), apartamento próprio. Que beleza! Só que o apê tem pouco mais de 50 m² para nós 4. Tá faltando espaço! Em plena pandemia vem a turma do deixa disso, “a arrumação da casa é o de menos.” ao que respondo, “amiga, se eu deixar de lado, a bagunça fica e eu saio. Não cabe todo mundo”. Até para a louça na pia não tem lugar. Olhem o armazenamento cheio de novo. 

A casa que já é pequena tem um cômodo a menos. É que com o home office do marido, o nosso quarto virou o “escritório” dele. E quando a reunião é séria rola até porta trancada para a Bia não abanar para os clientes. Essa semana, marido lotado de trabalho e eu + 2 filhos + fazendo comida + entrando em luta corporal com a bagunça da casa + fazendo bolos para vender (esse é o meu trabalho), só que minha cozinha não tem chave. 

Eu? Acelerada? Surtando? Que isso, gente?! Só tô um pouco como meu cel: sem espaço. Aliás, tá vendo essa foto aí de cima. Sou eu, fazendo terapia dentro do carro. Quase deitei o banco da direção para fazer de divã.

Quer outro bom lugar para chamar de seu? É no banheiro (que mãe nunca se trancou ali em busca de uns minutinhos de paz), mas minha dica é um pouco mais glamourosa que o vaso sanitário. Quando todos estiverem dormindo, acenda velas no banheiro, apague a luz, pegue uma taça de vinho e se jogue pro chuveiro ao som de um jazz.

17/11/2020

Se eu pudesse escrever esse texto em código, eu faria. Ou ele poderia vir com um cadeado, tipo diário, no qual só as mães de bebês tivessem acesso. Mas pensando bem, todo mundo faz sexo, qual o problema de falar sobre sexo? 

Bem, vamos lá! Falar não é problema, já fazer 😗. Posso compartilhar nesse espaço minhas experiências, não, não as sexuais, não se preocupem. É que vivo a maternidade pela segunda vez e na primeira não amamentei efetivamente. Então, depois dos três meses do nascimento da Beatriz, minha filha de 5 anos, minha vida sexual estava normalizada. Desejo, libido, hormônios ok! Agora, Bento está com seis meses mamando em livre demanda e cadê a vontade de fazer sexo?🙆🏼‍♀️ A natureza é sabia, esse corpinho não está preparado para mais um bebê. 

Números? Temos! Não há do que se envergonhar: uma vez desde que ele nasceu. No puerpério da Bia fui lá ser feliz, sem precisar de nada. Agora, teve hidratante vaginal, lubrificante e, confesso, uma taça de espumante para desvirginar 🙊, digo, relaxar, porque ninguém é de ferro. E deu certo, com o uso do lubrificante não senti dor. Muitas mulheres relatam um grande desconforto na primeira relação depois do parto. 

A situação é tão comprovadamente séria que fui fazer o exame preventivo e a ginecologista não pode acreditar quando ela mal encostou o espéculo e eu quase dei um pulo, mesmo estando na posição de “frango assado”. Deserto do Saara é pouco. Recomendação médica: use muito lubrificante. Ahã! Detalhe, a ginecologista foi a obstetra do meu parto, Bento chegou ao mundo em um lindo parto natural, ou seja, não venham me chamar de fiasquenta (fresca). 

Ahhh, a essa altura vocês estão pensando o que meu marido acha disso? Bem, não é nossa fase mais feliz sexualmente falando, duas crianças, apartamento pequeno e uma pandemia, maaas realizamos nosso sonho de termos nossos dois filhos. Eles são lindos e maravilhosos e nos enchem de alegria. E de outro tipo de prazer! 

Entenderam por que eu queria códigos e cadeado? Quem aí tem coragem de comentar como anda a vida sexual? Pode ser assim: 😃(ótima) 😟(já foi melhor) ou 😱(vida o quê?).

25/11/2020

Não foi na pandemia, foi há cinco anos, mas quem vive uma demissão não esquece. Se for uma mãe que voltou da licença-maternidade, então… Como eu chorei, como me senti incapaz, como eu tive medo de não conseguir sustentar minha filha. Isso já é duro, mas para quem tem traumas com dinheiro, como eu, é o fim. Isso foi o que pensei lá em 2015. 

Lembro até hoje quando meu marido foi me buscar no trabalho e eu dei a notícia. Chegamos na garagem do meu prédio e eu pedi a ele para esperar um pouco. Eu não tinha coragem de subir, de encarar minha filha. Uma vergonha e aquela sensação de fracasso. Com o rosto inchado, tomei fôlego, subi e olhei para a Bia, ela me olhava com aquele sorriso fofo que um bebê de sete meses dá para a mãe quando ela chega em casa. “Filha, desculpa, hoje é só meia mãe”. Não dava para ser inteira. 

Eu nunca me esqueci dessa frase! Ela foi pauta na sessão de terapia e então eu entendi que não podemos ser 100% mãe, 100% esposa, 100% mulher de negócios, 100% filha. São muitos papéis para um ser só. Mesmo que esse ser sejamos nós, mulheres fodonas que damos conta de tudo, mãe polvo, sabem como é. Mas vem cá, se a gente cuida de tudo, quem cuida da gente? Nós mesmas! E mais ninguém!

Aquele dia, fui 50% por causa da minha demissão, em outros tantos dias fui 10, 20, 30% por inúmeros outros motivos. E tudo bem! Não sou nada perfeccionista (ainda bem!) e não tenho a menor pretensão de ser eleita a melhor mãe do ano. 

Desejo muito que você que está lendo esse texto e chegou até aqui tenha esse pensamento. De que fazemos o que podemos, do jeito que dá, como dá. FLEXIBILIDADE e LEVEZA são duas palavras que não saem do meu dicionário. Já encontraram elas no dicionário de vocês? Vale a pena! Elas caem bem em qualquer papel.

04/12/2020

Maternar • Escolher • Empreender

Essas três palavras dizem muito sobre mim. Quem acompanhou o último post (volte xx casas) sabe como fiquei devastada com a demissão que sofri após o nascimento da minha primeira filha. Mas a bad passou rápido. Logo, eu curti e aproveitei muito estar em casa com a Bia. Só que o seguro-desemprego acabou e o fundo de garantia também. Era hora de ganhar dinheiro. 

Ganhar dinheiro porque voltar ao meu trabalho eu não queria. Como jornalista vivi horas dentro da redação, incluindo finais de semanas e feriados. E com a maternidade isso já não fazia mais sentido pra mim. Eu queria estar perto em todas as primeiras vezes. 
Fui fazendo freelas como jornalista. Ganhando uma graninha por mês até que um dia cansei. Era hora de escolher. 

Cada vez mais eu gostava de estar com a Bia em casa. Até que um dia, “plim” como num passe de mágica eu decidi começar a vender os bolos que fazia para ela. Não, não, isso tá muito romanceado. Não teve passe de mágica coisa nenhuma. Teve uma mãe, desesperada, precisando de dinheiro e essa mesma mãe querendo estar em casa com sua filha. Uma mãe que fazia bolo e recebia elogios ao postar as fotos. E foi aí que o empreender entrou na minha vida. Agora sim! Vida real! 

Pouco mais de um ano se passou desde a criação da @vaibemcombolo. Em uma emissora de rádio na qual trabalhei, o slogan dizia “em 20 minutos tudo pode mudar”. Se em 20 tudo pode mudar, imagina em 525.600 minutos? De um ano pra cá, ganhei outro filho dentro de uma pandemia e vivo outra maternidade, pois a mãe do Bento não é a mesma que a mãe da Bia, mas sigo na mesma escolha: estar em casa, ser aconchego, estar presente. 

Lembram que eu falei que não tinha mágica? Bem que eu queria o 13º tirado da cartola. Não tem. Também não tem férias, salário fixo, mas tem o mais importante: a minha escolha validada. 

Uma das frases mais lindas que já li e que abraça minha alma é: “meus filhos têm a melhor mãe que poderiam ter”. Porque assando bolo ou sendo uma executiva que fica 12h fora de casa, damos o nosso melhor SEMPRE. Sempre que nosso coração estiver alinhado com nossas escolhas.